WALTER GRASSMAN DISPARA CONTRA LEONEL
Leia abaixo a matéria do jornal TODO DIA realizada pelo repórter Elias Aredes Junior, com o preparador físico Walter Grassman.
O preparador físico do Guarani, Walter Grassman, resolveu desabafar. Não se conforma em ver no passado a força e a tradição de um Guarani que amedrontava os rivais. Em sua quarta passagem pelo clube - as outras três ao lado do técnico Oswaldo Alvarez -, Grassman não poupou palavras em uma entrevista exclusiva ao TodoDia.
Se disse decepcionado com o presidente Leonel Martins de Oliveira e confessa que o quadro é quase insustentável.
"Nós estamos no limite. Sabe uma bomba relógio prestes a explodir? Aqui, qualquer coisinha, vai gerar um incêndio. Eu espero que isso não aconteça nos próximos seis jogos”, afirmou
TodoDia - O senhor já passou por situação parecida na sua carreira?
Walter Grassman - Dessa magnitude não. Eu nunca passei por uma situação de ficar quatro meses sem receber salários. A maioria dos clubes paga no dia 15 ou dia 20. Agora, quando vira o mês fica preocupante. Eu vou para o terceiro mês. Os atletas vão para o quarto. Eu cheguei em junho e recebi por 26 dias de trabalho. É muito desagradável. Da mesma forma que você troca a comissão técnica e os atletas, acho que a diretoria tem que se tocar. Não dá mais? Pede demissão e sai!
E quanto isso afetou o relacionamento da diretoria com os jogadores e integrantes da comissão técnica?
Se você entrar no Guarani você nem vai sentir da comissão técnica e dos atletas que existe algum problema, nem com a diretoria. Desde que cheguei do Sampaio Correa, eu já tinha informações que a situação estava muito difícil, mas não imaginava que fosse assim. Lógico, passa o primeiro mês, segundo mês, terceiro mês e você começa a ficar preocupado. Mas infelizmente não sentimos sinceridade por parte da diretoria nas conversas com atletas ou integrantes da comissão técnica. Minha opinião particular: seria mais fácil dizer que não tem dinheiro e ponto final. Cada um iria procurar seus direitos e pronto. Agora, ficar nessa de que vai (pagar) daqui a 15 dias... Me trataram como criança. E criança eu não sou. Vou tratá-los da mesma forma quando sair daqui. Vou mostrar que deveriam ser um pouco mais honestos e corretos comigo. Fiquei muito decepcionado com quem me trouxe de volta ao Guarani.
Quem lhe decepcionou?
Principalmente o presidente. Ele não é um homem desonesto, de maneira nenhuma, mas ele não foi sincero com a gente. Até hoje, é só desculpa, só mentira. Não vejo nada de honesto no clube para conosco. É minha opinião particular. Eu me sinto um verdadeiro bobo. Trabalho porque amo o clube e respeito a torcida. O clube não tem culpa de ser mal administrado. Repito: ele não é desonesto. Mas em uma situação dessa, ele deveria entregar o cargo.
Até que ponto o atraso nos salários e as condições de trabalho atrapalham o trabalho seu e de toda a comissão técnica?
Temos que agradecer muito a Deus por termos verdadeiros homens e profissionais. Senão, o Guarani estaria em uma situação pior que a do Duque de Caxias. Para você ter uma ideia, até hoje não tivemos um pontapé nos treinamentos, nenhuma briga ou descontentamento no dia a dia. Ninguém fala mal do clube ou do presidente. Mas estamos profundamente decepcionados com essa diretoria, que abandonou o clube. Amanhã (hoje) podem até me demitir por causa de minhas palavras, mas eles foram irresponsáveis. Repito: são honestos, mas as condições são as piores possíveis.
Poderia explicar quais seriam essas condições?
Tem dias que a gente come arroz, feijão, filé de frango e salada. Só. Eu tenho almoçado aqui para ver o nível de comida que meus atletas comem aqui. Isso é uma vergonha para um clube do tamanho do Guarani. Não existe só o problema dos salários atrasados. Outras áreas são afetadas, principalmente a nutricional. A nutricionista daqui é sensacional. Nem sei como trabalha aqui ainda. O clube está afundado e em uma crise grande. Mas não é só o salário.
Por que a crise não se restringe apenas aos salários?
Porque quando você impede que os profissionais recebam, os fornecedores também não recebem. Como um clube pode alimentar corretamente seus atletas? Além disso, o problema é a preparação até o dia do jogo. Hoje temos treino aqui. Você acha que eles treinam sossegados? Você acha que eles se concentram sossegados? Até hoje estou muito cordial e bonzinho. Daqui para frente não vou omitir mais nada.
Como o senhor encontra forças para lidar com essa situação?
O que motiva é o Guarani. É minha quarta passagem. Tenho um grande carinho pelo Guarani e Atlético Paranaense. Gosto de Campinas, vivo bem aqui e convivo com um grande grupo de profissionais. A gente passa por dificuldades em todos os clubes. Agora, os problemas aqui vividos procuramos resolver com nosso trabalho. O importante é que a gente se sinta motivado e motive os atletas para que possamos tirar o Guarani dessa situação incômoda contra o rebaixamento. Porque isso seria o fim do Guarani. Atuar na Série C seria uma pá de cal.
Como senhor analisa a postura da torcida?
A torcida tem nos acompanhado. Se os salários estivessem em dia, talvez as cobranças maiores fossem em cima de nós, porque temos nossa parcela de culpa. Mas em Volta Redonda , dos 60 pagantes, 20 eram bugrinos. Tenho que valorizar a presença deles. Sem torcida fica difícil.
Não dói no coração sentir um carinho pelo Guarani e vislumbrar a necessidade de processar o clube?
Se eu sair daqui e não receber nada é exatamente isso que vou fazer. Tenho uma família e não vou esperar boa vontade. Não acredito na boa vontade de ninguém aqui dentro. Eles podem até pagar amanhã (hoje), mas não farão mais do que a obrigação deles. A coisa já passou para um lado absurdo.
O que lhe deixa mais incomodado nessa situação?
O que me deixa mais indignado é a certeza de nada. Ninguém acende a luz no final do túnel. Aqui, só temos o túnel. Não temos a luz. Para piorar, no final do ano temos férias, 13º, dezembro. Muita gente passará um Natal horrível em nível financeiro. Mas parece que não pesa para a diretoria. Ficou comôdo. Aqui existem atletas que não vão fazer greve e não vão se omitir em jogar. Porém , ninguém está sendo tratado com dignidade. Os jogadores estão treinando, viajando e nenhuma informação é passada. Quando passam é a mesma ladainha de sempre. Só cascata. Só mentira. Não acredito em mais ninguém aqui dentro.
A reunião feita pelo presidente Leonel Martins de Oliveira, às vésperas do dérbi, admitindo a impossibilidade de quitar os salários atrasados, foi a gota d´água?
Nem vou dizer que foi a gota d´água. Eu fiquei impressionado porque trataram o dérbi e aquela semana como algo comum. E não é comum aqui e nem na Ponte Preta. O dérbi é um outro campeonato dentro da Série B. Trazer aquelas informações naquele dia não somou nada. Era melhor ter ficado quieto e ficar sem falar nada. Todo mundo ficou chateado aqui. Ninguém queria bicho, e sim ser tratado com mais respeito. Ficamos sozinhos na semana do dérbi: jogadores, comissão técnica e torcida. Mais ninguém.
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Parabéns Walter Grassman pela coragem e pela atitude profissional diante do fato, acredito que não lhe demitam, pois a verdade está escancarada e a incompetência e falsidade dominam os atos desta vergonhosa diretoria.
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